Breve História do Montanhismo
As grandes montanhas
A década de 1950 começou marcada pela conquista, por uma expedição francesa, do primeiro cume de mais 8.000m, o Annapurna (8.091m), no Himalaia.
Participaram dela alguns dos melhores alpinistas da época, que faziam parte do que ficou conhecido depois como geração de ouro francesa, gente como Lionel Terray, Gaston Rébuffat e Louis Lachenal.
Em 29 de maio de 1953, foi a vez de uma expedição inglesa conquistar finalmente o Everest, o pico mais alto da Terra, com 8.848m, na fronteira entre o Nepal e o Tibete, hoje território chinês. Chegaram ao cume o apicultor neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay. Neste mesmo ano, os alemães alcançaram o topo do Nanga Parbat (8.125m), com Hermann Bulh fazendo cume. Em 1954, o K2 (8.611m) foi vencido por uma expedição italiana, com Achille Compagnoni e Lino Lacedelli fazendo cume.
Da expedição italiana ao K2 também fazia parte Walter Bonatti, escalador que nos anos seguintes seria considerado um dos melhores de todos os tempos, entre outras coisas, por ter feito em 1955, em solitário e em cinco dias, o pilar sudoeste do Petit Dru (3.733m) e em 1965 por ter aberto uma nova via na face norte do Matterhorn (4.478m), em solitário e no inverno, fato considerado um dos maiores feitos da história do alpinismo mundial. Bonatti inspirou toda uma geração futura por representar o verdadeiro espírito do montanhismo. Sempre jogou limpo com a montanha e abriu vias de compromisso e muito difíceis, tendo ao menos uma via nas quatro faces mais selvagens do maciço do Mont Blanc. “Bonatti não entrou para a história do alpinismo, escreveu um capítulo sozinho”, escreveu sobre ele a revista espanhola Desnivel.
Nos Alpes, a década de 1950 marcou o início da destruição dos mitos, com vias que antes eram excepcionais se tornando clássicas. Até 1951, por exemplo, o esporão Walker, com seus 1.200m, nas Grandes Jorasses (4.208m), só conhecia oito repetições. Em 1967, o saldo já era de 31 ascensões, incluindo a primeira invernal, em 1963, por Bonatti e Zapelli. Dois anos depois, já havia mais de 100 ascensões.
Em 1961, apenas um mês depois de uma grande tragédia (ver quadro), os ingleses Bonington, Whillans, Ian Clough e o polaco Jan Djuglosz, abriram o pilar central do Frêney. Segundo Bonington, “é a sua dificuldade, isolamento e exposição em caso de mal tempo que presta à via seu desafio e severidade”. Aquele foi o tempo também em que algumas das maiores paredes de rocha do planeta foram conquistadas.
O Fitz Roy, na Patagônia argentina, foi escalado em 1952 por Lionel Terray e Guido Magnone. O Half Dome, em Yosemite, Califórnia, foi escalado em 1957 pelos americanos Royal Robins, Mike Sherrick e Jerry Gallwas. O El Capitan, também em Yosemite, com paredes verticais de até 900 metros, foi conquistado em 1958 por Warren Harding, Wayne Merry e George Whitmore, após 47 dias de trabalho. Em 1963, foi a vez da Torre Central dos Paines, na Patagônia chilena, ser escalada pelos britânicos Bonington e Don Whillans, os mesmos do pilar do Frêney.
O Brasil marcou presença nas grandes montanhas quando, em 1953, Ricardo Menescal e Orlando Lacorte, membros do Centro Excursionista Carioca (Cec), atingiram o cume do Aconcágua (6.959m), na Argentina. Um mês depois, foi a vez do paulista Domingos Giobbi chegar ao cume da mesma montanha.