Breve História do Montanhismo

Saem de cena os cabos de aço

No Brasil, na década de 1950, o equipamento ainda não havia evoluído o bastante para se escalar usando as pequenas agarras e aderência de nossas paredes como pontos de apoio. Assim, os escaladores concentravam seus esforços em subir por chaminés.

Tadeusz Hollup, na conquista da Chaminé Gallotti, em 1954. Arquivo CEC/Ivan Calou.

Quando era necessário subir por uma face sem grandes fendas, a alternativa era fixar cabos de aço com a ajuda de troncos de madeira, da mesma maneira como foi feito na conquista do Dedo de Deus, da Agulha do Diabo e tantas outras montanhas.

Foi assim, com bastante trabalho, que foram abertas as terceira, quarta e quinta vias no Pão de Açúcar: o Paredão Cepi, em 1952, pelo extinto Clube Excursionista Pico do Itatiaia; a chaminé Gallotti, em 1954, por membros do Centro Excursionista Carioca; e o Paredão Secundo Costa Neto, em 1957, também pelo Carioca, após 19 investidas.

Patrick White na conquista da Chaminé Gallotti, em 1954. Arquivo CEC/Ivan Calou.

Foi somente a partir da segunda metade da década de 1960 que os cabos de aço caíram em desuso e foram gradativamente removidos destas e de outras vias. Isso aconteceu devido a um avanço nas técnicas de escalada utilizadas no país, já que as técnicas europeias estavam sendo cada vez mais difundidas em livros, e também pela vinda de escaladores estrangeiros, como o francês Lionel Terray, que visitou o Rio de Janeiro.

Fotos da conquista do Secundo (Urca): os conquistadores, George White, Nelson Bussi, Tadeusz Hollup, Laércio Martins e Patrick White, com o tronco utilizado na conquista. Arquivo CEC/Ivan Calou.

Além disso, houve significativas mudanças nos equipamentos de escalada. A pesada bota cardada foi sendo substituída aos poucos por calçados leves, que permitiam a realização de lances mais técnicos, como a alpargatas de sola de sisal. A corda de sisal foi também vagarosamente sendo substituída pela corda de náilon, e em pouco tempo o baudrier surgiria. Hoje em dia, a chaminé Gallotti e o Secundo não possuem mais cabos de aço, sendo que o último trecho foi retirado na década de 1990. Hoje, o grau destas é 5º VIsup e 5º VIIa, respectivamente.

Uma escalada que marca bem este período foi a conquista do Paredão IV Centenário (4º V, 170m), em 1965, no Morro da Babilônia, por Giuseppe Pellegrini, Carlos Carrozzino, José Luiz Barbosa, Cláudio Vieira de Castro e Etzel Von Stockert, todos do Cerj.

Tadeusz Hollup. Arquivo CEC/Ivan Calou.

Apesar de ter sido cabeada para permitir uma ascensão mais rápida aos futuros escaladores, ela foi conquistada com cordas de náilon e em livre, ainda que com apoio nos grampos, pois naquela época não havia a preocupação de não se pisar ou segurar nos grampos.

Antes mesmo do final da década os próprios conquistadores removeram os cabos de aço que havia. O IV Centenário é um bom exemplo da transição do uso de cabos para a escalada em livre nas paredes com agarras. Ela marca também o início do que foi chamado na época de “rochedismo”, a escalada de paredes sem o objetivo de se alcançar o cume. Além disso, foi a primeira via do Babilônia, parede que hoje conta com mais de 40 vias.