Breve História do Montanhismo

O pilar Frêney, a tragédia de 1961

Na década de 1960, o pilar central do Frêney, no Mont Blanc, com seus 700 metros, ainda não havia sido escalado e era considerado o último dos grandes desafios da montanha mais alta dos Alpes. No verão de 1961, em 8 de julho, começava a saga de uma equipe de alpinistas italianos e franceses que, ao encontrar-se no abrigo La Fourche, aos pés da montanha, resolveram unir forças. Juntos, os franceses Pierre Mazeaud, Pierre Kohlmann, Robert Guillaume e Antonie Vieille, e os italianos Walter Bonatti, Roberto Gallieni e Andrea Oggioni, iniciaram a escalada, superando o pilar Peuterey e um terço do pilar central, onde fizeram o primeiro bivaque.

No dia seguinte, o objetivo era alcançar a elevação final do pilar, mas foi aí que começaram os piores dias de suas vidas. Um forte vento se levantou e eles foram castigados por uma chuva de granizo. Quando Mazeaud chegou ao local onde estava Kohlmann, este último foi alcançado por um raio que o atingiu no ouvido, carbonizando seu aparelho de surdez. Kohlmann caiu nos braços do companheiro aturdido e sem sentidos. Felizmente, minutos depois voltou a si. Todos haviam sido pegos de surpresa pela tormenta, cuja formação não puderam ver, pois veio de noroeste. Logo houve uma sucessão de raios, acompanhados por trovões e uma brusca queda de temperatura, que fez daquela uma noite infernal. Kohlmann teve a infelicidade de ser atingido novamente por um raio, que o jogou para fora do platô, ficando pendurado pela sua longa solteira e sendo içado pelos seus companheiros.

Bonatti no segundo dia de escalada.

No início da madrugada, a tempestade cedeu e a neve começou a cair forte. Na manhã seguinte, o céu clareou e, cheios de esperanças, eles decidiram permanecer mais um dia na montanha. Afinal, faltava tão pouco para o cume, que descer daquela altura seria tão arriscado quanto continuar subindo. Naquela época do ano, pela experiência que tinham, uma tormenta não deveria durar mais do que 24 horas.

A última esperança se desvaneceu quando, à tarde, começou nova tormenta, fazendo daquela uma noite ainda pior do que a anterior, pois estavam cansados física e psicologicamente. À meia noite voltou a nevar e a temperatura caiu para -20º C. Novamente, mais raios, trovões e neve, com rajadas que rasgavam os sacos de dormir. No dia seguinte, decidiram escalar até a saída do pilar, mas, quando Mazeaud começou a subir, viu que as cordas, a rocha e tudo o mais estava congelado. Só havia uma saída, descer.

Bonatti começou então a rapelar primeiro, em meio à tempestade. Quando chegaram à base do Pilar, afundaram na neve recém-caída. Tiveram então que abrir uma trilha através do platô do Frêney, mas só foram capazes de chegar até o colo do Peuterey. Ali, foram obrigados a fazer mais um bivaque, pois estavam esgotados. Na manhã seguinte, para não ter que subir até o colo Eccles, o qual já não se atreviam, tiveram que continuar sob a tormenta até as agulhas Gruber, de onde seria mais fácil descer do platô. Assim que chegaram, Bonatti se pôs a rapelar, seguido por seus companheiros. No entanto, Vieille, mais acima na trilha, com Mazeaud e Guillaume, não resistiu ao frio e sentou-se. Logo depois, estava morto. Isso afetou a todos, aumentando o abatimento do grupo. Bonatti era quem estava em melhores condições, ainda com alguma reserva de energia, por isso guiou o grupo abrindo passagem na neve espessa. Às 16h, eles ouviram vozes entre a névoa, vindo da aresta Innominata, mas a tormenta feroz engolia suas tentativas de resposta. Era uma equipe de resgate que pensava que eles estivessem naquela aresta, pois deveriam ter subido o colo Eccles, o que não acontecera.

Estavam distantes e lutando em meio a névoa, mas o desejo de chegar os fez acreditar que estavam próximos à Innominata. Logo, porém, se deram conta do engano e constataram que ainda estavam muito longe. Sem forças para sobreviver, já estavam no limiar da loucura. Alguns poucos passos levavam minutos e continuamente caíam enterrados na neve até os ombros, necessitando da ajuda uns dos outros para colocar-se de pé. Avançando de metro em metro, impediam-se mutuamente de ficar sentados, pois isso significaria a morte. Mas, com a volta da tormenta e da neve, a ideia da morte já lhes parecia mais sensato do que seguir andando.

O itinerário de regresso e o ponto mais alto que eles alcançaram.

Por fim, chegaram ao pé da subida do colo da Innominata, de onde só faltariam 100 metros de subida, depois seria só descida até o abrigo Gamba. Mas, naquelas circunstâncias, 100 metros pareciam um obstáculo insuperável. Bonatti não perdeu tempo e começou a subir colocando alguns pitons. Mazeaud, que ia de segundo, logo foi alcançado por Oggioni. Mas, e Guillaume, onde estaria? Oggioni gritou por ele e desceu até a última reunião, porém não o encontrou. Mais tarde soube-se que Guillaume havia caído em uma greta.

Enquanto isso, Kohlmann e Gallieni já haviam subido até onde estava Bonatti. Mazeaud e Oggioni tentavam escalar e eram praticamente rebocados pela corda por Bonatti. Contudo, suas forças já estavam no fim e ele não conseguia mais puxar a corda. Bonatti decidiu então abandonar Mazeaud e Oggioni, que estavam a apenas 40 metros, e prosseguir com Kohlmann e Gallieni até o abrigo Gamba em busca de socorro.

Abandonados à própria sorte, só restava a Mazeaud e Oggioni esperar que seus amigos chegassem ao refúgio a tempo de pedir ajuda. Quando a tempestade amainou, eles tentaram continuar subindo, mas gastaram uma hora em tentativas frustradas, avançando poucos metros. Logo, suas forças esgotaram-se, Oggioni apoiou-se em Mazeaud, fechou os olhos e morreu em seus braços à meia-noite. Pouco depois, Mazeaud, em um reflexo de sobrevivência, tentou novamente escalar pelas cordas deixadas por Bonatti. Só conseguiu subir um metro antes de cair até o piton onde estava seu companheiro morto. O piton soltou-se e ambos caíram. Mazeaud pensou que sua hora tinha chegado, mas, de repente, a dor sentida pelo estirão e pressão da corda o devolveu à vida, sua queda tinha sido freada por um nó, enquanto que o corpo de Oggioni caía até o glaciar.

Dos outros três que desciam até o refúgio, Kohlmann morreu de esgotamento um pouco antes de chegar. Bonatti e Gallieni chegaram mais mortos do que vivos ao abrigo Gamba, onde acionaram o resgate. Enquanto isso, pendurado pela corda, Mazeaud lutava contra o frio que se apoderava de seu corpo, não sentindo mais os pés nem os dedos das mãos. Pela manhã, ele percebeu pessoas no colo acima e, com suas últimas forças, gritou-lhes que se apressassem, pois não aguentaria muito mais. Quando chegaram até ele, Mazeaud desmaiou, mas uma injeção de Coramina lhe trouxe de volta à vida. Estava salvo!