Breve História do Montanhismo

O começo de uma nova modalidade

Fábio da Silveira, no Ácido Lático (VIIa), na Parede dos Ácidos (Urca). Foto André Ilha.

Foi nos anos 80 também que se começou a praticar o que hoje chamamos de escalada esportiva.

O princípio foi tímido, com vias sendo escaladas em top rope, na Pedra do Urubu. Mas logo essa nova modalidade se desenvolveria, principalmente depois da conquista do Ácido Lático (VIIa), em 1983, por André Ilha, Marcelo Braga e Marcello Ramos, na Parede dos Ácidos. Até o final da década surgiram várias outras vias neste estilo, incluindo o primeiro VIIIc, a via Andrômeda, aberta em 1986 por Marcello Ramos e Pedrag Pancevski, no Morro São João, em Copacabana.

Alexandre Portela no teto da Nosferatus (VIIIc). Foto Andre Ilha.

Mas, a maior concentração de vias de grande dificuldade estava mesmo na Parede dos Ácidos e na Pedra do Urubu, local que servia como ponto de encontro dos escaladores esportivos ou falesistas, como eram conhecidos. Entre eles estava Paulo “Macaco”, responsável por abrir três lances de IXa: o boulder Olhos de Fogo, no Grajaú, em 1987; o Expressão Corporal e o Urubu Sacana, ambos na Urca e cotados hoje em VIIIc.

Paulo Macaco na Urubu Sacana (VIIIc). Foto André Ilha.

Na busca da evolução técnica, alguns equívocos com relação à ética foram cometidos, como a colocação de agarras artificiais na Pedra do Urubu. Esta foi a opção encontrada pelos escaladores locais da época para se criar uma via de IXb, o famoso grau 5.13a americano. Este fato não se justificou por causa da grande quantidade de vias naturais de nono grau, ou até mais difíceis, que foram descobertas posteriormente em outras áreas da cidade, além da proliferação de muros artificiais. As agarras de plástico, como eram chamadas, foram então retiradas. Atualmente, a grande maioria dos escaladores abomina este tipo de via em rocha.

Ralf Côrtes, na Aresta do Urubu (VIIb), ambas vias da Pedra do Urubu (Urca). Foto André Ilha.

Paralelamente, a escalada esportiva também se desenvolvia em outros Estados, com destaque para o Morro do Anhangava, nas proximidades de Curitiba. O Paraná contava com excelentes escaladores, entre eles José Luis Hartmann, o “Chiquinho”, Ingo Müller, Ronaldo Franzen Junior, o “Nativo”, Dálio Zippin Neto, Bito Meyer, Júlio Nogueira, Dubois e André Lima, entre outros. Posteriormente, foram abertas vias esportivas em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Com a escalada esportiva surgiram também as primeiras competições de escalada na América do Sul, sendo o primeiro Campeonato Sul-americano realizado em Córdoba, na Argentina em 1987, e vencido pelo carioca Marcelo Braga. Dois anos depois, em Vila Velha, no Paraná, acontecia mais uma competição, vencida pelo paulista André Prata. Em Curitiba, foram realizados os Sul-americanos de 1989 e 1990 e, no Rio de Janeiro, aconteceram os Campeonatos Brasileiros de 1990 e 1992, no muro que havia no topo do Pão de Açúcar, na lateral da estação do bondinho.

Campeonato realizado em São Paulo.

Assim como na década anterior, a passagem de escaladores estrangeiros pelo Brasil também foi marcante nos anos 1980. A visita de maior destaque foi a do famoso escalador alemão Wolgang Güllich, o primeiro a superar a barreira do nono grau francês, equivalente ao nosso XIc, em 1991, com a via Action Direct, na Alemanha. Na Urca, ele deixou como legado, em 1987, a Southern Confort, também conhecida como Via do Alemão, na Pedra do Urubu. Esta via esportiva foi o primeiro décimo grau do Brasil, permanecendo como a esportiva mais difícil da América do Sul durante muito tempo.

José Luis Hartman, o Chiquinho, no Anhangava (Paraná).

Depois de Güllich, outro escalador de peso que passou pelo Brasil foi o francês Patrick Edlinger, em 1989. Trata-se de um dos maiores responsáveis pela difusão da escalada em livre de grande dificuldade. Ele também ficou conhecido pelos filmes em que aparecia solando grandes vias, com dificuldades de até VIIc. Em nossas montanhas, Portela e Tartari também fizeram solos integrais assombrosos, como a via dos Italianos (5º V, 270 metros), a Secundo (na época 5º V C, 300 metros), a Cavalo Louco (5º VI, 270 metros) e a Gallotti (5º VIsup, 280 metros), no Pão de Açúcar, além de algumas outras vias no Babilônia e na Parede dos Ácidos.