Breve História do Montanhismo

A multiplicação das vias

A partir dos anos 1970 houve uma multiplicação no número de vias conquistadas no Rio de Janeiro, consequência do aumento do número de praticantes e de escaladores de bom nível técnico.

IV Centenário (4º V), no Morro da Babilônia, Urca.

Contribuiu para isso também a consolidação do uso da corda de náilon, dos mosquetões de duralumínio e do baudrier. Para se ter uma ideia, até o fim da década de 1960, a Urca contava com apenas nove vias. Dez anos depois, elas já eram quase 50.

Dentre essas novas vias uma chamou bastante atenção. Foi o Lagartão, conquistado no Totem, na face sul do Pão de Açúcar em 1972, por Alex Pereira, George White, Jean Pierre Von deir Weid e Luis Bevilacqua, todos do Cec.

Jean Pierre conquistando o trecho de artificial do Lagartão no Pão de Açúcar. Arquivo Jean Pierre.

Seguindo por 300 metros uma linha com fendas, negativos, aderência e delicados trechos em agarras, esta escalada possuía um grau de dificuldade técnica extraordinário para a época: sexto grau (hoje ela está graduada em 6º VIIa A1/VIIc). Durante muitos anos, o Lagartão foi considerada uma das vias mais difíceis do Brasil e se tornou um mito entre os escaladores, tendo poucas repetições até o final dos anos 1970, sendo raríssimas à vista.

A face leste da Pedra da Gávea, por onde foi conquistada a via C-100, em 1972.

A via que rivalizava com o Lagartão no quesito dificuldade era a Foca, no Espírito Santo, uma conquista do carioca Rodolfo Chermont, escalador muito habilidoso e extremamente arrojado. Ele também é conquistador da via Patrick White, no Irmão Maior do Leblon, e da C-100, na Pedra da Gávea, que era toda protegida com grampos de ¼ de polegada. Ambas estavam entre as mais difíceis da época. Outra via aberta neste período, e que se tornaria uma clássica, foi a Leste do Pico Maior de Salinas, em Nova Friburgo (5º V A1). Com 700 metros de extensão, era a maior via até então, sendo conquistada por Waldemar Guimarães, Valdinar dos Santos, José Garrido e Guilherme Menezes, em 1974.

A face leste do Pico Maior, em Salinas (Nova Friburgo), conquista de 1974.

Mais ou menos no mesmo ano em que começaram a chegar ao Brasil as primeiras sapatilhas, em 1978, chegaram também as primeiras peças para proteção móvel, os nuts. Um bom exemplo da utilização deles foi na conquista da Fissura Tropical, em 1979 (4º VIsup), no Morro da Babilônia, por Antônio Carlos Magalhães e José Lozada. São 30 metros de fissura toda protegida em móvel, exceto por um grampo no trecho inicial de agarras. Nos anos seguintes, numerosas vias com fendas seriam conquistadas com essas peças “mágicas”.

Messner

Depois de Walter Bonatti, o italiano Reinhold Messner surgiu como o novo candidato ao posto de maior montanhista de todos os tempos. Natural do Tirol do Sul, na fronteira da Itália com a Áustria, Messner daria muito que falar nos anos seguintes, ao derrubar sucessivamente mitos nas grande montanhas do Himalaia.

Era uma tendência da escalada moderna a redução brusca dos tempos de ascensão. Vias que antes eram feitas em dias, passaram a ser feitas em horas. Messner deu uma demonstração da força dessa nova geração de alpinistas, ao escalar com o austríaco Erich Lackner, o Pilar do Frêney no Mont Blanc, pela primeira vez em um dia. Depois, com Peter Habeler, escalou a face norte do Eiger em impressionantes 10 horas.

Reinhold Messner.

Ele iniciou suas atividades no Himalaia em 1970, ano em que escalou o Nanga Parbat (8.126m) com seu irmão Günther, subindo por uma face e descendo por outra. Mas durante a descida uma tragédia se abate sobre eles, Günther desaparece em uma avalanche.

Em 1978, com Peter Habeler, são os primeiros a chegar ao cume do Everest sem utilizar oxigênio engarrafado, algo que até alguns médicos acreditavam ser impossível devido a rarefação do ar a 8.848 metros acima do nível do mar. Ainda hoje são poucos aqueles que lá chegam sem garrafas de oxigênio.

Em 1980, Messner volta ao Everest, subindo desta vez pelo lado norte. Escalando sozinho e novamente sem oxigênio, abre uma nova via.

Aos 42 anos, em 1986, ele se torna o primeiro escalador a subir todos os 14 principais cumes do planeta com mais de 8.000m, sendo que em nenhum deles utilizou oxigênio engarrafado. Messner também é autor de vários livros, entre eles “Espírito Livre”, “A Zona da Morte”, “Everest em Solitário”, “Everest sem Oxigênio” e “As Grande Paredes”. Infelizmente, nenhum deles foi publicado no Brasil.