Breve História do Montanhismo

Os três últimos grandes problemas

Na Europa, na primeira metade do século XX, tem início uma segunda época de ouro do montanhismo, desta vez centrada na verticalidade. Com a popularização do alpinismo – nesta época somente o Club Alpin Français já contava com cerca de 30 mil sócios – e com os principais cumes já conquistados, começou uma busca pela grande dificuldade. E nada representava melhor a grande dificuldade do que três faces nortes europeias: a do Matterhorn (4.478m), uma das montanhas mais impressionantes e bonitas dos Alpes; a das Grandes Jorasses (4.208m), no maciço do Mont Blanc, uma muralha que vista de frente, tem um aspecto imponente, com 2.000m de largura e 1.200m de altura; e a mais temida de todas, a face norte do Eiger (3.970m), com um desnível da base ao cume de 1.800 metros de rocha quebradiça.

De cima para baixo: Grands Jorasses (Chamonix), face norte do Eiger (Suíça), e Tre Cima (Dolomitas, Itália). Na página anterior, o Matterhorn (Cervino), na fronteira Suíça – Itália.

As condições de uma face norte são bastante diferentes das condições de uma face sul. No hemisfério norte, por não receberem a luz direta do sol, elas são mais frias e acumulam mais gelo. Por isso, essas imensas paredes eram conhecidas como os três últimos grandes problemas dos Alpes. Elas foram vencidas uma a uma, antes do início da Segunda Guerra Mundial: O Matterhorn, em 1931; o Esporão Croz, nas Grands Jorasses, em 1935; e a Face Norte do Eiger, em 1938. Os riscos eram grandes e muitos acidentes aconteceram. Somente na face norte do Eiger, entre 1935 e 1977, 43 homens perderam a vida.

Ainda em 1938, entre os dias 4 e 6 de agosto, o italiano Ricardo Cassin, abriu uma das vias mais míticas do alpinismo, o Esporão Walker, com 1.200m de extensão, na face norte das Grands Jorasses. Cassin era um dos melhores escaladores de seu tempo, tendo aberto também vias em duas impressionantes faces nortes, na Ovest di Lavaredo, nas Dolomitas, Itália, em 1935, e no Piz Badile, Suíça, em 1937. Esta última ele repetiu pela terceira vez em 1987 com 78 anos de idade. A Walker foi a última grande via aberta antes da Segunda Guerra Mundial e marcou o início de uma nova era.

O período entre guerras foi marcado por um forte nacionalismo. A Itália havia ganhado a Walker e o Badile, a Alemanha o Eiger, Matterhorn e o Croz, enquanto o Dru era dos franceses. Inclusive os alemães Anderl Heckmair, Henrich Harrer e Ludwing Vörg, conquistadores da face norte do Eiger, juntamente com o austríaco Fritz Kasparek, foram recebidos e condecorados por Hitler, como forma de propaganda nazista. Mas foi neste período também que surgiram algumas inovações nos equipamentos, como a sola Vibram. Pensada inicialmente para ser usada com esquis, acabou revolucionando a escalada ao mudar a postura do escalador, permitindo confiar nas pernas.