Breve História do Montanhismo
O Pão de Açúcar
No Brasil, até o século XVIII, algumas montanhas já haviam sido escaladas. Porém tais ascensões, realizadas principalmente por bandeirantes, tinham caráter exploratório e não ficaram registradas.
No início do século XIX, mais precisamente em 1817, foi registrada a primeira ascensão ao cume do Pão de Açúcar (396m), no Rio de Janeiro. A inglesa Henrietta Carsteirs, que morava na cidade, aos 39 anos de idade aventurou-se pela rocha e fincou a bandeira de seu país no topo. Quem sabe o eco do Mont Blanc havia chegado às terras tupiniquins? Talvez ela tenha sido influenciada pela primeira ascensão feminina ao Mont Blanc, em 1808. Mas isso é apenas uma suposição.
O certo é que esse acontecimento causou certa agitação na cidade do Rio de Janeiro, seja pelo seu cunho de audácia ou por despertar sentimentos nacionalistas nos colonizadores portugueses. Motivado por esse sentimento, no dia seguinte ao feito de Carsteirs o soldado lusitano José Maria Gonçalves chegou ao cume do Pão de Açúcar. Lá, trocou a bandeira do Reino Unido pelo Pavilhão Real Português.
Neste mesmo século, outras montanhas viriam a ser conquistadas no Brasil. Em 1824, D. Pedro I acompanhou pessoalmente a abertura de uma trilha até o cume do Corcovado (704m), também no Rio de Janeiro. Desde então, passear por esta trilha passou a ser um hábito dos moradores da capital. Em 1828, já eram registradas ascensões à Pedra da Gávea (842m). Em 1841, foi atingido o cume da Pedra do Sino (2.263m), em Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Em 1879, o Monte Olimpo (1.539m), no Marumbi, Paraná, também foi escalado e, em 1898, o Pico das Agulhas Negras (2.791m), na região sul do Estado do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que foram ascensões meramente esportivas, e que algumas destas ascensões não são apenas caminhadas, sendo também preciso escalar em algum momento, ainda que de forma simples.
O Dedo de Deus
O dia 8 de abril de 1912, no entanto, marcou definitivamente o início da escalada no Brasil, exatamente como a ascensão do Mont Blanc havia decretado o início do alpinismo, quase 126 anos antes. Neste dia, um grupo de teresopolitanos chegou ao cume do Dedo de Deus (1.675m), na Serra dos Órgãos. “Não apenas pelo fascínio que ele exerce nos montanhistas, mas, principalmente, pela forma como foi conquistado, o Dedo de Deus é o símbolo do montanhismo no Brasil”, escreveu Waldecy Lucena no livro “História do Montanhismo no Rio de Janeiro” (Editora Publit).
Antes, alemães já haviam tentado escalar a montanha, mas foram vencidos pelo difícil acesso e pelas diferenças em relação ao tipo de rocha a que estavam acostumados na Europa. Este fracasso e a presunçosa afirmação posterior dos alemães de que, se eles não conseguiram conquistar o Dedo de Deus, ninguém mais conseguiria, foi o que motivou José Teixeira Guimarães a escalar a montanha. Ferreiro pernambucano radicado em Teresópolis, ele foi acompanhado na empreitada por Raul Carneiro, um caçador local que serviu de guia aos alemães pelas matas da serra, e os irmãos Alexandre, Américo e Acácio de Oliveira.
Foram ao todo sete dias acampados na base da montanha. Para vencê-la, Teixeira e seus companheiros fixaram grampos como proteções no granito, além de grossas varas de bambu, munidas de degraus, para vencer os trechos mais lisos da parede. Também subiam nos ombros uns dos outros para conseguir ganhar altura. Por sorte, muitos trechos da via de conquista contam com chaminés, o que facilita a ascensão.