Temporada de Big Wall

Este foi o ano em que os escaladores cariocas mais estiveram em big walls. Foram repetidas seis vias de peso, do qual participaram 19 escaladores. Neste artigo publicamos uma breve descrição de cada via, fatos interessantes sobre, explicamos o termo big wall e como funciona o sistema de graduação.
Franco-Brasileira, Pedra dos Sinos, PNSO.Big Wall
Não há nenhuma definição específica que qualifique uma parede como um big wall, mas como o termo já diz, tem que ser uma parede grande, preferencialmente fendada e negativa.
Um big wall pode ser visto como uma escalada que venha a durar normalmente mais de dois dias, geralmente utiliza-se muita proteção móvel. Os estilos em livre ou em artificial podem ser utilizados, mas geralmente a escalada em artificial móvel é a predominante.

Ao contrário da escalada em livre, estilo que tem como desafio utilizar apenas o corpo sem ajuda de pontos de apoio diferentes da rocha para progredir, a escalada artificial utiliza uma gama de equipamentos que são acomodados, entalados ou até mesmo martelados na rocha, onde o escalador se pendura para progredir e colocar a próxima peça. Esse ritual acontece geralmente nas fendas. Apenas quando não é possível instalar nenhum desses equipamentos uma proteção fixa é colocada.

A dificuldade da escalada em artificial depende da precariedade em que as peças são colocadas e o risco que uma sequência dessas peças delicadas pode oferecer ao escalador em caso de uma eventual queda. As peças que não precisam ser martelas, mesmo quando mais precárias, são mais valorizadas, pois, não deixam cicatrizes na rocha. Uma outra classificação se refere a complexibilidade de se chegar a base, escalar a via e retornar. Fazendo com que escaladas sejam muito diferentes em relação ao planejamento logístico mesmo que tenham dificuldade técnica bem semelhantes.

Crazy Muzungus, Garrafão, PNSO.A rotina em um big wall é sempre a mesma, um guia, outro dá segurança e o terceiro organiza, pode haver o revezamento de funções depois de longas horas esperando uma enfiada ser completada. Nesse estilo geralmente apenas o primeiro escala enquanto que os outros sobem pela corda, para poupar tempo. O objetivo principal é chegar ao final da via pelo caminho mais isento de proteções fixas possível.

Como a escalada dura mais de dois dias, os escaladores devem levar o equipamento necessário para permanecer na parede, um verdadeiro acampamento suspenso, além dos víveres essenciais como comida, água e equipamento. Quem escala um Big Wall sabe que o mais difícil não é entrar em uma via, mas, com certeza, sair dela.

As Vias
A Tragados pelo Tempo foi o primeirobig wall do país. Foi aberta em 1984, inicialmente pelo americano David Austin, ao qual se juntaram Alexandre Portela e Sérgio Tartari. Está localizada na mais imponente parede da cidade do Rio de Janeiro, o Corcovado. De 1984 a 2003 foi repetida apenas pelos conquistadores e por uma cordada suiça.

Tragados pelo Tempo, Corcovado, RJ. Crazy Muzungus, Garrafão, PNSO.
A Crazy Muzungus está localizada no Garrafão, na Serra dos Órgãos. Uma das maiores dificuldades é chegar na base. A cordada Hillo-Cristiano-Diogo, por exemplo, levou dois dias e meio para chegar lá. O mesmo aconteceu três meses depois com a cordada Bagre-Kika-Adrian. É o big wall mais isolado do país. Foi aberta pelos europeus Jacques Richard, Rolf Rauber, Romain Vogler e o brasileiro Predrag Pancevski.

Terra de Gigantes, Pedra dos Sinos, PNSO.A via Anatomia de Um Rosto, começa em livre, na barba da Gávea e segue num artificial delicado (A3+) até os olhos. Alí a via atravessa o negativo-teto dos olhos e segue pela testa até o cume. Na lista de equipamentos utilizado pelos conquistadores dá para ter uma idéia da parafernália que é necessário levar: 10 pitons Knifeblade, 6 pitons Lost Arrow, 1 Rurp, 1 Pecker, Copperheads, cliffs, nuts diversos, micro-nuts, tricams pequenos, 2 jogos de friends, camolots 3½ e 4, 2 Big Bro e 3 cordas.

A Terra de Gigantes é considerada a mais difícil big wall do país. Depois da conquista ficou mais sde uma década sem repetições. Este ano Hillo, Marius e Gabriel Cattan fizeram a primeira repetição desta via sem a participação de algum dos conquistadores. Ficaram sete dias na parede. O filme desta escalada foi mostrado no Festival de Banff e deverá estar a venda em 2004.

Os Impermeáveis tem 350 metros de via, e está na face norte do Dedo de Deus. Noventa por cento da via é levemente negativa e 10% vertical. É o primeiro big wall do Dedo de Deus e foi terminada em 10 de agosto de 2002, por Alexandre Portela, Claudio Luiz ‘Pita’, Juan Kempen e Nello Aun. Daniel, Barão e Taranto chegaram ao cume às 23 horas, depois de três dias de empreitada.

Repetições:

Anatomia de Um Rosto (Pedra da Gávea), A3+
– Gustavo Sampaio e Daniel Guimarães levaram 2 dias para fazer as 7 enfiadas.

Crazy Muzungus (Garrafão) – A2
– Flavio Daflon, Álvaro Loureiro e Bernardo Cruz levaram 5 dias para fazer as16 enfiadas.
– Daniel Guimarães, Josemar Sechin, José Alberto e Taranto Junior levaram 4 dias para fazer a segunda vez essa mesma via.
– Hillo Santana, Cristiano e Diogo levaram 6 dias. Perderam 2 dias e meio para achar a base.

Os Impermeáveis, Dedo de Deus, PNSO.Os Impermeáveis (Dedo de Deus) – A3
– Daniel Guimarães, Eduardo ‘Barão’ e Taranto Junior fizeram em 3 dias as 9 enfiadas.

Terra de Giantes (Pedra do Sino) – A4, 14 enfiadas.
– Alexandre Portela e Juan em 4 dias.
– Sérgio Tartari e Luciano em 5 dias.
– Hillo Santana, Marius Bagnati e Gabriel Cattan em 7 dias.

Tragados pelo Tempo (Corcovado) – A3
– Luis Claudio ‘Pita’, Flavio Daflon e Alvaro Loureiro levaram 3 dias nas 12 enfiadas.

Cavalaricias de Áugeas (M. do Sul) – A2 VIsup
– Daniel Guimarães, Gustavo Sampaio e Ricardo de Moraes levaram 2 dias para conquistar as 6 enfiadas deste novo big wall.

Veja um artigo sobre a Graduação de Dificuldade em Big Wall. (31.03.04)