Perigo na Face Norte do Morro da Urca
O escalador e geólogo Antônio Paulo Faria esteve na face norte do Morro da Urca e fez uma vistoria numa grande laca que se desprendeu da parede e ameaça as vias Estranho Prazer, Antônio Callado e Yuri Gagarin e tornam perigosa também a escalada das vias Ervê Muniz e Mane Garrincha. A recomendação é que não sejam escaladas essas vias. Veja abaixo o parecer completo do Antônio Paulo.
“Hoje à tarde fui dar uma olhada na face norte do Morro da Urca, a pedido do Flavio Daflon, e fiquei impressionado com o que vi. Formou-se literalmente de um dia pro outro uma placa solta de aproximadamente 3 X 8 m (24 M2), pesando algo em torno de 5 toneladas, a vinte metros de altura da base, que abrange as vias: Estranho Prazer, Antônio Callado e Yuri Gagarin. Vários grampos dessas vias estão sobre a placa. As bordas das placas são afiadas como facas e formaram-se muitas lacas soltas que estão apenas equilibradas. A placa em si está soltinha, pode cair a qualquer momento. Quem vem de cima, rapelando, não enxerga o perigo, mas há microfissuras e lacas quebradas no topo da placa. Mesma as vias à direita e à esquerda da placa, Ervê Muniz e Mane Garrincha estão sob perigo, porque quando a placa descer, ou parte dela, vai desintegrar-se como uma granada arremessando lacas em um perímetro enorme.
Aqui vão algumas explicações.
Na capa do Jornal o Globo de hoje, vi uma matéria sobre toneladas de blocos de rocha que desceram ontem de uma pedreira em Vila Isabel, causando uma devastação. Ou seja, um dia seco com sol e frio. O fenômeno pode estar relacionado com a placa do Morro da Urca. Na verdade este tipo de placa não se formou de uma hora pra outra, mas o rompimento final, sim. Com o tempo seco e frio, a temperatura sobre a rocha oscila consideravelmente, entre 50 e 60 graus no meio do dia e 10 e 20 graus à noite. Ou seja, varia mais de 30 graus, esta amplitude não ocorre no verão. A rocha se expande e contrai-se durante anos, até formar microfissuras a alguns centímetros de profundidade, até que uma hora ela se solta por completo. A espessura média dela deve ser de 8 cm. Este fenômeno pode ainda estar associado à expansão da rocha pelo o que é conhecido como alívio de pressão.
O que pode acontecer?
Não é possível dizer quando ela vai cair, pode ser a qualquer momento ou pode ser daqui a alguns anos. Entretanto, agora que está solta, o momento mais propício é durante ou logo após os dias chuvosos, porque ela vai ficar mais pesada por absorver água e a umidade vai lubrificar o contato com a rocha, que aliás, é uma superfície muito lisa. O peso de uma pessoa sobre ela pode detonar o processo. Entretanto, a placa continua se expandindo e contraido-se, ou seja, se não cair logo, ela deve continuar se quebrando. As bordas dão arrepios, são muitas lacas finíssimas prontas para descer. Isto é, o perigo é real e eminente. Na face norte do Morro Dona Marta, por exemplo, existem muitas placas finíssimas que estão equilibradas (em repouso) durante anos, mas aquela parede tem “baixa” declividade, enquanto a face norte do Morro da Urca a declividade é acentuada, formando, às vezes, até pequenos negativos.
O que fazer?
O ideal é jogar ela para baixo, mas esta é uma tarefa difícil e complexa. Deve ser feito por uma equipe liderada por um profissional acostumado com este tipo de remoção. Não façam a estupidez de tentar jogá-la para baixo usando alavancas ou marretas, é necessário todo um planejamento antes e é preciso autorização para isso. No momento, o melhor a fazer é evitar a área até que uma providência técnica seja tomada. Se alguém nesta lista é profissional habilitado e com experiência para isso, peça autorização à Georio. A Georio NÂO vai fazer este trabalho porque não há risco para nenhuma casa ou rua. E atenção, isto não é competência da FEMERJ, o máximo que ela pode fazer é colocar placas de aviso, e foi exatamente o que foi feito no Costão do Pão de Açúcar em 2002, a remoção dos blocos foi feito por terceiros. O recado foi dado.”
Antonio Paulo Faria