CEPI em livre
O famoso cabo do CEPI, a única via ferrata do Pão-de-Açucar, foi encadenado em livre recentemente pelo escalador Flavio Daflon. Escaladores como Alexandre Portela, Sérginho Tartari e Hillo Santanna, já haviam realizado o feito. A diferença é que dessa vez Daflon, utilizou somente os grampos do CEPI como proteção.
O que acontece é que, com o passar dos anos e com as inúmeras recuperações do cabo (a última feita há uns poucos anos atrás), a quantidade de grampos no cabo aumentou consideravelmente, diminuindo a exposição para alguém guiá-lo. Antigamente, para guiar o CEPI em livre, os escaladores costuravam prussiks em alguns lances mais expostos para não correr o risco de levar uma mega vaca, apesar de quase sempre terem a mão o cabo de aço para se safar do perrengue no último instante.
Mesmo assim, o CEPI continua exposto para ser guiado em livre na sua forma atual bem mais protegida. Daflon sugere um E3 e quanto ao grau geral da via, ele sugere um 6º VIIc. O crux se dá na segunda enfiada da via, uma barriguinha estranha de VIIc. A saída do chão é um VIIa tranquilo, bem protegido por chapeletas. Daí, o escalador faz uma horizontal e logo depois ele entra num dos lances mais exposto da via, um VIIb de agarrinha estranho a direita do cabo.
Flávio faz questão de afirmar que o cabo em momento algum atrapalha em fazer a via em livre. Ele argumenta que o CEPI faz parte da história da escalada no Brasil e deve ser mantido como tal. O cabo foi posto em 1952 pelo Centro Excursionista do Pico de Itatiaia (hoje extinto), cuja sigla deu o nome à via ferrata. Fazer o CEPI em livre oferece somente mais uma opção na Face Oeste do Pão-de-Açucar.
Como curiosidade, é o lugar no Rio de Janeiro, em montanha, onde se registrou mais acidentes e mortes. Praticamente todo mundo conhece alguém que em algum momento se esborrachou no CEPI. Para evitar esse problema, o ínicio do cabo foi retirado há alguns anos e substituído por algumas chapeletas (o que manteve a característica de artificial, mas que dá margem somente para quem tem pelo menos algum domínio técnico a entrar na via ferrata – o que diminui bastante a probabilidade de acidentes).
Não levando em conta essas estórias tristes envolvendo o cabo, que provavelmente em sua maioria poderiam ter sido evitadas, o CEPI continua sendo uma das grandes diversões da Urca. É também o maior adianto para quem não quer rapelar a Via Italianos e seguir rapidinho para o cume ou então um bom treinamento para ganhar resistência. Uma das brincadeiras é fazer o cabo contando tempo e tentando diminuí-lo cada vez mais. Para tempos recordes (abaixo dos 10 minutos), no entanto, é preciso solar o cabo para economizar tempo não mosquetonando os lances, o que não é de modo algum aconselhável para iniciantes.
Um aviso para os incautos: façam o CEPI com segurança. Não é de modo algum o ideal, pois já existem equipamentos específicos para vias ferratas no mercado que melhor absorvem impacto, mas utilizem sempre duas solteiras no baudrier. Para quem não sabe ou não tem noção de como fazer vias ferratas, procure o instrutor ou escola de escalada mais próximo e “do the right thing”.
Veja o croqui da via em livre. Para mais informações sobre o CEPI e sua história, consulte o livro Guia de Escaldas da Urca. (22.11.03)