Recomendações UIAA para Proteções Fixas
Introdução
Este documento foi produzido em resposta aos apelos de associações nacionais de montanhismo por conselhos no uso de proteções fixas. As opiniões sobre este assunto são fortes (ver, por exemplo, o Boletim 3/98 da UIAA – “Montanhas em Aço e Ferro”). Algumas destas organizações estavam preocupadas com o fato de que, sem um consenso entre escaladores e montanhistas, outras instituições tentariam impor regras às nossas atividades. Em algumas regiões alpinas disputas maiores surgiram entre escaladores do tipo “plaisir” (prazer) e “puristas” – escaladores que preferem um estilo tradicional de praticar a escalada e o montanhismo. Esta disputa desencadeou um círculo vicioso de remoções, adições e novas remoções de grampos em certas vias.
Em 1998, a pedido da Comissão de Montanhismo da UIAA, os clubes alpinos da Alemanha e da Áustria, que já estavam discutindo este tópico, criaram um grupo de trabalho para rascunhar um documento balizador. Uma ampla gama de pontos de vista foi considerada pelo grupo. Além disso, informações sobre o uso de grampos no maciço do Mont Blanc foram apresentadas em encontros como o da ENSA (Escola Nacional de Esqui e Alpinismo, da França) em 12-13 de novembro de 1998.
O documento foi então apresentado no Encontro e Seminário Internacional de Escalada Invernal de 1999 em Aviemore, Escócia. Este encontro contou com mais de 100 escaladores de 28 países, que por unanimidade endossaram o documento. Ele conclama os escaladores de todo o mundo a considerarem-no detalhadamente, de tal forma que um consenso baseado na boa prática pudesse ser estabelecido e a liberdade para praticarmos nossas atividades protegida.O documento foi finalmente adotado pelo Conselho da UIAA em maio de 2000, durante o encontro de Plas y Brenin, Wales.
Preâmbulo
. A escalada é um esporte popular, praticado por toda a vida, caracterizado por relacionamentos humanos duradouros, contato direto com a natureza e a intensidade da atividade física. A escalada é um fator estabilizador para muitas pessoas, proporcionando- lhes um senso de objetivo. Do ponto de vista sócio- político, a escalada contribui para a saúde pública ao contrabalançar os efeitos da falta de atividade física. Além disso, psicólogos e educadores reconhecem que escalar ao ar livre reforça traços positivos de caráter como confiabilidade, senso de responsabilidade e a capacidade de trabalhar em equipe.
· Escalar montanhas dá a chance aos indivíduos – especialmente os mais jovens – de desenvolver o seu senso de responsabilidade. Esse aspecto é mais ou menos pronunciado dependendo do estilo de escalada envolvido. O grau de responsabilidade requerido numa escalada depende da quantidade de proteção na via: escalar vias de rocha com pouca proteção exige uma medida especialmente alta de ponderação por parte do escalador, para a sua própria segurança e a de seu parceiro.
· Observado o respeito pelo meio ambiente natural, o livre acesso às áreas alpinas selvagens é um direito fundamental. Possibilidades suficientes para a prática do esporte da escalada em rocha só podem ser garantidas se este direito à liberdade de movimento for garantido, e sofrer restrições apenas em casos isolados e bem fundamentados, considerados como absolutamente necessários.
· Assim como a caminhada, a escalada em rocha na Europa é um fator econômico significativo nos baixos e altos maciços montanhosos. Devido à natureza econômica de muitas dessas regiões, escaladores e familiares que com eles viajam são, freqüentemente, uma fonte essencial de renda, tanto para o abastecimento dessas áreas quanto para o decorrente comércio varejista.
· Neste documento, as medidas de atualização (redevelopment) referem-se à colocação de proteção fixa em vias de escalada em rocha em consonância com os padrões correntes de segurança técnica.
A Restauração de Vias de Escalada em Rocha
Na evolução da escalada em maciços montanhosos baixos, bem como nas áreas baixas dos maciços elevados, muitos escaladores desenvolveram uma predileção por vias esportivas bem protegidas, ou vias “divertidas” (fun routes). Um grande número de escaladores alpinos preferem que hajam bons grampos nas enfiadas e paradas das vias de escalada em rocha mais populares. Por outro lado, um bom número dos escaladores que freqüentam as montanhas estão interessados na manutenção do caráter original das áreas e de suas escaladas em rocha. Eles preferem que não existam grampos, tanto parcial quanto integralmente. A quantidade e a qualidade das proteções fixas de uma escalada em rocha é um instrumento efetivo para influenciar a sua popularidade: vias bem protegidas são repetidas mais freqüentemente do que aquelas mal protegidas. Desta forma, em áreas ecologicamente sensíveis a proteção permanente deve ser reduzida a um mínimo. Por outro lado, em áreas menos sensíveis um maior número de possibilidades para a escalada pode ser criado pelo estabelecimento de vias de rocha bem protegidas. Áreas de escalada desenvolvidas sob estas diretrizes não representam uma ameaça ao meio ambiente.
Uma pluralidade dos vários estilos de escalada é desejável e bem-vinda como uma expressão das legítimas preferências individuais dos escaladores. Para permitir esta pluralidade, nós fazemos as seguintes recomendações (grifo dos autores):
a) As medidas de atualização devem ficar limitadas a uma seleção de vias de escalada bem freqüentadas.
b) Certas áreas alpinas, montanhas ou partes de montanhas podem ser excluídas destas medidas como forma de reterem o seu caráter original.
c) Vias de escalada em rocha que representam marcos na história alpina (por exemplo, a Face Norte do Eiger/ via Heckmair, Laridererverschneidung, Esporão Sul do Marmolata, Pumprisse, Grandes Jorasses/Esporão Walker, Face Norte do Dru, Travessia do Grepon ou do Meije) devem ser deixadas em seu estado original. Este princípio também se aplica para as vias de escalada em rocha de grande significado local (como a via Gelbe Mauer Direta, no Untersberg, e a Fissura Batert, no Gehrensptize).
d) Um princípio básico da atualização das escaladas em rocha é que o caráter da via deve permanecer intacto:
· A linha da conquista não deve ser alterada.
· Vias e enfiadas de corda individuais conquistadas “limpas” (usando apenas nuts, friends, fitas etc.) não devem receber grampos adicionais.
· Grampos não serão colocados em trechos que podem ser feitos com material móvel por escaladores do grau daquela via.
· Lances longos não devem ser neutralizados com grampos adicionais (não “mate” um lance longo).
· A dificuldade de uma via não deve ser alterada através das medidas de atualização. Passagens artificiais deixadas pelos conquistadores devem continuar podendo ser feitas em artificial após a atualização. O número de proteções fixas numa via atualizada deve ser menor do que o número de peças original. Por exemplo, diversos pítons podem substituídos por um único grampo.
· Para todas as medidas de atualização, somente material que atinja os padrões europeus e da UIAA devem ser utilizados. A atualização deve ser levada a cabo dentro dos padrões reconhecidos sob os auspícios da organização administrativa (dos escaladores).
· Uma via não deve ser atualizada contra o desejo de seu conquistador.
e) O método válido para atualizações em uma dada área de escalada é definido – com base nas presentes recomendações – pelos seus escaladores experientes e pelos grupos de escalada locais, se necessário em cooperação com as autoridades responsáveis. Manter o poder de decisão no nível local garante a cada área o seu próprio caráter independente. A atividades das organizações de escaladores devem ser coordenadas por um comitê supra-regional, de forma a garantir os fluxos de informações horizontais e verticais e para assegurar uma qualidade de procedimentos uniformemente elevada. Em caso de conflito, o comitê funcionará como mediador.
A Conquista de Vias em Rocha
a) Em regiões alpinas, as conquistas devem ser feitas exclusivamente de baixo para cima (sem pré-fixações feitas com corda de cima).
b) Nas áreas excluídas das medidas de atualização os grampos devem ser reduzidos a um mínimo absoluto, e deve ficar a cargo de cada conquistador(a) estabelecer o padrão da sua própria via.
c) Não se pode acabar com o caráter independente das vias adjacentes.
d) Especialmente nas zonas próximas aos vales, ou em outras partes facilmente acessíveis das montanhas, áreas especiais para escalada esportiva podem ser estabelecidas – desde que isso seja feito de uma forma ecologicamente consistente e sem obstruir outras áreas de escalada existentes. Essas medidas precisam ser aprovadas pela organização de escaladores responsável por aquela área.
Comissão de Montanhismo da UIAA