Loop do Baudrier
Em 1978, o fabricante inglês Troll criou para seus baudriers o primeiro loop da história, que nada mais era do que um pequeno anel que une as alças da perna e da cintura. Desde então, surgiram dúvidas de quanto ele suportava e se servia somente para prender o freio do rapel ou também para dar segurança. A norma CE exige um mínimo de 15KN para o loop e para o baudrier, mas é comum encontrarmos baudriers que suportam 15KN, enquanto o seu loop suporta 22KN ou mais.
O mosquetão do freio deve ser sempre preso ao loop. Caso o mosquetão do freio seja preso diretamente nas duas pontas (alças) do baudrier, corre-se um sério risco. Além de não permitir uma movimentação do mosquetão para se alinhar na direção do tranco, em caso de queda, o acúmulo de fitas tão largas pode forçar o mosquetão do freio em três direções. Veja as fotos abaixo. Em quedas sérias, o mosquetão pode partir, como aconteceu fatalmente duas vezes na Inglaterra, em 1998.
Porém, nem tudo são maravilhas com o loop. O italiano Emanuele Pellizzari, um dos maiores especialistas em equipamentos de montanha da Europa, realizou alguns testes com baudriers usados e descobriu que loops com alguns anos de uso podem aguentar bem menos do que os 16KN da norma CE.
Um de seus baudriers, com dois anos de uso, teve o loop rompido com 10KN. Já em outro, o rompimento aconteceu com 11KN e, em um terceiro, com três anos e sete meses de uso, o loop se rompeu quando submetido a 7KN.
Pelos poucos testes realizados, ainda não se pode garantir que a perda de resistência comprometa a segurança de todos os baudriers existentes. Por exemplo, o loop do baudrier do escalador espanhol Daniel Andrada, famoso por ter encadenado mais de mil vias de IXc ou mais, com dois anos de uso, ainda assim resistiu ao teste de 27KN.
Existem baudriers no mercado cujos loops suportam 32KN e que, provavelmente, mesmo perdendo resistência com o tempo, podem resistir aos 16KN da norma CE. Outros fatores que devem ser levados em consideração para que um loop perca resistência são a frequência e a forma de sua utilização.
Escaladores esportivos que estão sempre segurando quedas e que podem escalar quase todos os dias devem se preocupar mais. O problema é que eles também costumam usar o equipamento até praticamente se desfazer, seja por economia ou falta de dinheiro mesmo. Por sorte, em outro teste verificou-se que a grande maioria das quedas não força o loop em mais de 4KN.
Quem escala vias tradicionias em geral força menos o loop, que normalmente acaba sendo mais exigido no rapel, ainda que pouco. Em compensação, nestas vias fica-se mais exposto ao sol, o que deteriora mais rapidamente as fibras das fitas do baudrier.
Se o seu baudrier ainda parece novo, mas você está com uma pulga atrás da orelha em relação à resistência do loop, não utilize as duas pontas (alças) do baudrier, faça melhor: troque o baudrier ou utilize um reforço para o loop. Neste caso, o mais aconselhável é utilizar um cordelete de 5,5mm, de kevlar ou dyneema, fazendo um segundo loop e colocando ao lado do loop original. Para emendar o cordelete utilize um nó de Pescador Triplo. Um metro de cordelete dá de sobra e é barato. A resistência de um cordelete de kevlar ou dyneema varia de 13 a 18KN. Deve ser dada preferência a um cordelete, pois uma fita pode aumentar em excesso o diâmetro do conjunto, o que reduziria desnecessariamente a resistência do mosquetão de rosca do freio. É o mesmo princípio pelo qual as costuras modernas possuem fitas com no máximo 20mm de largura.
Um último detalhe: para se queimar a ponta de um cordelete de kevlar, deve-se cortar a alma menor do que a capa. Esta última é feita de poliamida e é o que efetivamente será queimado, já que o kevlar (aramida) da alma não se funde com o calor.
- Texto extraído do livro Escale Melhor e com Mais Segurança.
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